segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Resposta dos Professores com Dilma aos Intelectuais com Aécio


Nós, Professores com Dilma, recebemos com entusiasmo a carta em que os assim chamados "intelectuais" manifestam seu apoio à candidatura de Aécio Neves. Embora tenhamos posição contrária à desse grupo, acreditamos que apenas com o debate franco, aberto, em que se assumam os lados, pode-se levar o país ao amadurecimento das instituições republicanas. 

Dando sequência ao debate, portanto, pedimos licença para comentar alguns pontos do documento. De modo respeitoso, é claro, mas sempre tendo em vista a defesa de nossa escolha política. Abaixo, portanto, está a íntegra da carta, entrecortada por nossas intervenções. 

"Apoiamos Aécio Neves porque a sociedade brasileira quer mudanças". 

Nós, Professores com Dilma, também apoiamos a candidatura petista por querermos mudança. Ainda vivemos em um país desigual, onde os que se consideram parte da elite, em sua maioria, não foram suficientemente educados para viver em um Brasil onde o outro também deve ter direitos. No Brasil, mesmo a educação formal pode acabar formando “intelectuais” insensíveis aos problemas do Brasil proletário, do qual nós, professores, estamos mais próximos. 

"Porque é preciso dar um basta à conivência com a corrupção e aos retrocessos que marcaram a ação do governo nos últimos anos: a confusão entre partido e Estado e a cooptação de organizações da sociedade civil". 

Considerando fatos amplamente noticiados, parece-nos inapropriado promover o combate à corrupção apoiando um candidato que fez uso do dinheiro público para construir um aeroporto nas propriedades de sua própria família. Fora isso, o tema corrupção deveria gerar ao menos constrangimento aos apoiadores de um partido envolvido diretamente com o esquema de cartel formado para licitações do metrô de São Paulo. Já sobre a “cooptação da sociedade civil”, parece-nos uma visão distorcida dos campos de atuação por que cada partido trafega: se um importante expoente do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, não hesita em declarar publicamente que o partido não deve disputar o “povão” com o PT, nada mais justo que a sociedade civil organizada esteja mais próxima do outro grupo político. 

"Porque a democracia requer valores republicanos e exige o respeito às diferenças políticas, culturais e individuais". 

Em São Paulo, estado cuja polícia é extremamente truculenta, seguindo à risca as ordens do governador tucano, Aécio conta com apoiadores do calibre de Coronel Telhada, eleito nestas eleições para integrar a “bancada da bala”. Recorrendo de novo a FHC, ícone do partido de Aécio, parece pertinente lembrar que, para assumir alguma relação com antepassados africanos, o ex-presidente recorreu à preconceituosa expressão “ter um pé na cozinha”. Causa-nos espanto que os intelectuais signatários da carta sigam com esse grupo em busca do "respeito às diferenças". 

"Apoiamos Aécio Neves porque a estabilidade e o crescimento econômicos são condições indispensáveis para que a redução das desigualdades seja efetiva, e a retomada do desenvolvimento seja sustentável". 

Seria importante lembrar que os intelectuais da carta estão aqui se contrapondo a um projeto que, contrariando todas as cartilhas econômicas neoliberais, implementou valorização real do salário mínimo sem que isso tenha implicado a perda de postos de trabalho. Além disso, caso se queira entrar no âmbito da política econômica, é forçoso reconhecer que as decisões de cada governo jamais são apenas “técnicas” e que, não por acaso, o mercado financeiro – mesmo tendo obtido resultados espantosos nos governos petistas – apoia explicitamente a candidatura de Aécio, com a qual espera lucrar ainda mais. Esse mesmo mercado sabe que o uso estratégico dos bancos públicos para reduzir os spreads bancários, por exemplo, não é prática que figure na agenda tucana. 

"Porque queremos que as pessoas realmente se emancipem da ineficiência e das distorções dos serviços públicos, da pobreza que amesquinha seus horizontes e da falta de acesso a direitos fundamentais em áreas prioritárias como educação, saúde e segurança pública". 

Para debater este ponto, seria importante que nossos colegas intelectuais aclarassem o que pretendem afirmar quando desejam que as pessoas "se emancipem da ineficiência e das distorções dos serviços públicos”. Se nos é permitida uma avaliação dura, fica a impressão de que faltou coragem para defender de modo franco a privatização de serviços essenciais como educação e saúde. Nós, Professores com Dilma, temos quanto a isso posição irredutível: a educação de nosso povo, sua saúde, sua segurança alimentar, sua cidadania e sua dignidade não podem estar subordinadas aos interesses do “mercado”. 

Feitas nossas considerações sobre a carta dos colegas intelectuais, lembramos que, já no primeiro turno, elaboramos nós uma carta densa, com vistas a contribuir com o debate público não apenas levantando pontos fundamentais que justificaram nossa escolha pelo projeto petista, mas também argumentando em favor deles. Nossos colegas intelectuais, nesse sentido, deixam-nos com um certo sabor de decepção: repetindo velhos chavões da grande mídia e sem aprofundar a reflexão a partir deles, parece que os colegas usam apenas de sua “autoridade” como argumento para justificar o voto. Isso talvez tenha funcionado em outro Brasil, mas neste, onde importantes transformações ganharam curso com a eleição de um “analfabeto”, as relações de poder mudaram. Por isso o lema da campanha: “Muda mais!”